O Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin), Goiás, lançou o programa de formação continuada dos colaboradores. O responsável pela introdução ao tema foi o advogado com MBA em Gestão de Saúde, Paulo Leme Filho, que explicou um pouco sobre o compliance hospitalar. “Compliance é aperfeiçoamento pessoal e profissional”, resume o advogado.
Para o corpo clínico e administrativo da unidade de saúde, que fica a uma hora de Goiânia e atende exclusivamente pelo SUS, ele explicou que estar em conformidade com as normas técnicas, jurídicas e de comportamento – que é a tradução dessa palavra inglesa – significa estar sempre atento à ética.
Código de conduta
De acordo com Paulo Leme Filho, compliance não diz respeito somente às leis e normas, mas também à sua moral, à sua consciência e nem sempre é fácil quebrar um costume. O advogado lidera o projeto de escrever o primeiro código de conduta do Hutrin. Um processo que deve ser feito em colaboração com as lideranças do hospital até o fim desse ano.
Segundo o advogado, a participação dos colaboradores é fundamental. Isso porque as normas precisam ser atualizadas com base em exemplos do dia a dia e, assim, entrem em uso como cultura organizacional. “Até porque todos precisam saber que estão correndo risco ao compactuar com ações erradas e podem ser acusados judicialmente mesmo que só tenham se omitido a relatar o caso”, avisa Paulo Leme Filho.
Compliance Hospitalar
É mais comum do que se supõe os processos serem contra pessoas físicas e, mais comum ainda, serem contra pessoas jurídicas e físicas num mesmo caso. “É que empresas podem fechar, por isso, quem se sente lesado às vezes prefere a segurança de entrar com ação contra uma pessoa, que se for julgada culpada arcará com a indenização”, explica Paulo Leme Filho. Na prática profissional ele coleciona casos que servem de exemplo e são debatidos nas palestras que faz sobre compliance hospitalar.
Leme Filho citou alguns casos específicos. Além disso, contou que há muitos outros, corriqueiros até, como levar uma caneta da empresa ou usar a impressora. E, numa provocação, pergunta: “você age dentro do compliance?”.
Ética
Ele mesmo responde se valendo dos dados do Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC) feita no ano passado com 2.435 profissionais de 24 empresas no Brasil. O estudo aponta que quase metade (46%) dos profissionais tem tendência a sucumbir a desvios. Além disso, o mesmo número não denuncia colegas que desviam bens da empresa . De acordo com a pesquisa, 48% manipulariam ou aceitariam que colegas manipulassem relatórios de despesas pagas pela companhia com o intuito de ganhar a diferença. No estudo, dois terços dos entrevistados (66%) demonstraram ter tendência a realizar pagamentos indevidos para beneficiar fornecedores. Somente 29% percebem que pagamentos indevidos a terceiros são uma modalidade de fraude.
“Por isso precisamos falar a respeito. Precisamos entender o que é ética e olhar para nós mesmos fazendo essa reflexão. Além disso, é importante analisar e entender que compliance é aperfeiçoamento. Isso se faz no dia a dia cumprindo regras, as explícitas e as de convivência, primando sempre pela honestidade”, resume Paulo Leme Filho.